ESPERANÇA
AD LULA
Para organizar
Sujeitos e predicados,
Que se agridem ou gozam,
Prendê-los-emos em
sentenças,
Cadeias feitas de prismas
Para medir a Esperança:
Em agir,
Em sentir e
Pensar.
*
Ver no mundo
A perfeição do Criador
Foi infância-adolescência
De católico sonhador,
Onde a hierarquia e a
obediência
Num absolutismo afetivo
Desenharam o tomismo.
Numa falha no sistema
Como uma Matrix,
Um marginal utópico,
Um mendigo,
Pária, estranho,
Explorado, perseguido,
Desempregado,
não-empregável,
Excluído. Exclama:
“- Não sou isso,
Sou revolucionário.
Minha consciência pode não
ser,
Mas enquanto viver
Violarei as regras do jogo
Para mostrar o roubo,
Das cartas marcadas
Às vidas sacrificadas.
Maldita miséria!
Vivo da opulência do lixo!
Façam pilhérias!
Tratem-me como bicho!
Sou uma mostra do
capitalismo,
Alerta contra o consumismo.
Por baixo da base
conservadora
Integro a luta armada,
Assalto a burguesia.
Tô além da esquerda,
Fora da democracia.
Na essência da miséria,
Na crua realidade
Descobri a minha inexistência.
Chamam-me de imprestável,
Mas sou inominável.
Sou frio
Temido
E humilhado.
Pensam que quero pouco,
Quero é ser respeitado.
Não faço escândalo.
Não me curvo para doutor,
Não quero esmola,
Mas liberdade.
Vivo a verdade
Como um predador,
Em plena esperteza:
Só o silêncio é grande,
O resto é fraqueza.”
“Prolem sine matre creatam”[1]
Da mais-valia
Mais vale
Ver a vida
Que se esconde
Atrás do trabalho.
Numa contradição
Opondo a exploração
Ao reino da liberdade.
Síntese tal
Que numa louca aritimética,
Perpassada pelo Tao,
Ou mesmo a dialética
Desse mundo que vivemos.
*
Eliminemos as noções,
Capazes de compreender
A lógica das nações,
Dizem os Deuses,
Imensos e majestosos.
O Império fala das alturas
Pelas palavras sacras,
Tão altas no estrondo,
Tão elevadas para a
compreensão,
Tão inteligentes no destino,
Trazendo com o seu toque
O que sua presença nos
obriga
No caminho com a morte.
Em frente
Ou pelos lados,
Nos vemos a sós,
Com vós,
Que sois
Da democracia guardiões,
E da vida:
Solidões.
*
Do mito já dito,
Em grego esquecido,
Apareceu outrora
A caixa de Pandora.
Trazendo pragas e maldição,
O desastre e a doença.
Foi fechada com pressa,
Deixando em sua escuridão
A morte em forma de
sentimento,
Falo da Esperança.
De caixa na realidade
Se transformou em Vaso,
De horror em beldade,
Eis o Vaso da Felicidade.
Toda vez que o mortal
Ver(a)cidade dos deuses,
Ficará revoltado.
E para acalmá-lo,
Bloquear seus desejos
Abriremos a caixa,
Agora vaso,
Que tem guardado
A Esperança que trará,
Num amanhã bem afastado
A mudança.
*
Cara Esperança
Caro data vermibus[2],
Perinde ac cadaver[3],
Supérflua bonança,
Flui na superfície a alegria
De ser ideologia
Cadavergehorsan[4]
Enquanto na academia
“Nous prenait une toile,
Nous récitions de vers
Groupés autour du poêle
Em oubliant l´hiver.”[5]
*
Ou,
Do novo,
Se não se espera,
Não se encontra
O inesperado[6].
Rodolfo Lobato, 2004
[1] Ovídio –
“Filho Nascido Sem Mãe” – Credo Quia Absurdum
[2] Carne
dada aos vermes, CAro DAta VERmibus = CADAVER
[3]
Obediente como um cadáver.
[4] “a
palavra alemã utilizada na obediência incondicional e submissão absoluta a
Adolf Hitler e seus representantes, em toda a cadeia de comando. FILHO, Gisálio
C. A “Questão Social” no Brasil.
[5] La
Bohème, Charles Aznavour. “Nós pegávamos um pano/Recitávamos versos/ Agrupados
em volta da panela/ Esquecendo o inverno”.
[6] “Se não
se espera, não se encontra o inespertado, estando-se sem meios para uma procura
cuidadosa por um saber exato e sem passagem”. Fragmento 18 de Heráclito segundo
Herman Diels, traduzido por Daniel Rubião.
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