Paródia
"Se eu fôra poeta de um estro abrasado
Quisera teu lindo semblante cantar;
Gemer eu quisera bem junto a teu lado,
Se eu fôra uma onda serena do mar;
Se eu fôra uma rosa de prado relvoso,
Quisera essa coma, meu anjo, adornar;
Se eu fôra um anjinho de rosto formoso
Contigo quisera no espaço voar;
Se eu fôra um astro no céu engastado
Meu brilho, quisera p'ra ti só brilhar;
Se eu fôra um favônio de aromas pejado
Por sobre teu corpo me iria espraiar;
Se eu fôra das selvas um'ave ligeira
Meus cantos quisera p'ra ti só trinar;
Se eu fôra um eco de nota fagueira
Fizera teu canto no céu ressoar;
Mas eu não sou astro, poeta, ou anjunho,
Nem eco, favônio, nem onda do mar;
Nem rosa do prado, ou ave ligeira;
Sou triste que a vida consiste em te amar."
Rio de Janeiro, 5 de agosto de 1855. Machado de Assis, publicado em Marmota Fluminense.
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