“Ascendemos, de chofre, arrebatados na caudal dos ideais
modernos, deixando na penumbra secular em que jazem, no âmago do país, um terço
da nossa gente. Iludidos por uma civilização de empréstimos; respingando, em
faina cega de copistas, tudo o que de melhor existe nos códigos orgânicos de
outras nações, tornamos, revolucionariamente, fugindo ao transigir mais ligeiro
com as exigências da nossa própria nacionalidade, mais fundo o contraste entre
o nosso modo de viver e o daqueles rudes patrícios mais estrangeiros nesta
terra do que os imigrantes da Europa. Porque não no-los separa um mar,
separam-no-los três séculos...
E quando pela nossa imprevidência inegável deixamos que
entre eles se formasse um núcleo de maníacos, não vimos o traço superior do
acontecimento. Abreviamos o espírito ao conceito estreito de uma preocupação
partidária. Tivemos um espanto comprometedor ante aquelas aberrações
monstruosas; e, com arrojo digno das melhores causas, batemo-los a cargas de
baionetas, reeditando por nossa vez o passado, numa entrada inglória, reabrindo
nas paragens infelizes as trilhas apagadas das bandeiras...”
Euclides da Cunha, “Os Sertões”