Regencia Verbal
Atravessando
idades, este ensinamento vem sendo respeitado pela maioria dos que se consagram
aos estudos phililogicos.
A grammatica, não ha negar, só corresponderá às suas verdadeiras finalidades se realmente for “a coodificação dos factos da lingua”.
O proprio Ruy, o estylista impar, affirmou alhures que a grammatica não é a lingua.
Há regras, diz elle, na Réplica, que, interpretadas com rigor, só servem para gerar incertezas no espirito de quem estuda.
Para
Camillo Castello Branco, o povo é o melhor dos grammaticos. Comtudo,
a outro objectivo não visaram taes assêrtos senão o de mostrar que em matéria
de linguagem não é dado que “a theoria vá para um lado e a pratica para outro”.
Quizessemos
nós recolher opiniões sobre o assumpto e, certo, não nos satisfariamos com os
limites estreitos de um artigo. Há,
entanto, os que proclamam, horrorizados com a complexidade de nórmas tão á
miude dictadas pelos grammaticos, a inutilidade dos compendios linguisticos
para que se consiga redigir um prosa exacta...
Collocamo-nos,
porém, ao lado de João Ribeiro – este a quem Humberto de Campos, num impeto
incontido de admiração, chamou santo – quando disse que é dever de todos que
falam e escrevem zelar pela pureza do idioma; muito melhor é o exaggero do que
a criminosa negligencia.
Assim
o é, effectivamente.
Pelo
exaggero, poder-se-á, talvez, chegar às profundezas da fórma, e a fórma, disse
Emile Zola, basta para immortalizar um livro. Conhecida
é aquella passagem de um critico allemão ao affirmar que não ha grande merito
em escrever bem o francez, pois a lingua, conclue, já escreve pelo escriptor.
Diverso,
entretanto, o aspecto que nos offerece a lingua portugueza... Dando
ouvido ao ensinamento dos mestres, “graças à comparação entre os classicos e à
illustração dos exemplos, conseguiu um espirito erudito comprehender e estudar
o problema da regencia verbal.
Pela
acolhida que teve o 1ª. Volume de Regência Verbal, acaba de sahir a sua 2ª.
Edição, corrigida e augmentada. Impunha-se,
de ha muito, a sua publicação. Ao menos, como obra de consulta. Arthur
de Almeida Torres, collega illustre da Faculdade de Direito de Nictheroy, e
membro destacado do corpo docente do collegio Pedro II da Capital da Republica,
é o seu autor. Felizmente,
não pretende elle em seu livro “reter nas algemas de leis ficticias e no
carcere de principios estáticos o surto evolutivo das linguas! ...
Evóca
o exemplo dos clássicos, sem fechar os olhos à realidade do presente. D’elle
– victorioso em plena mocidade – já se disse não ser uma esperança bruxoleante,
mas uma realidade confortadora. Laudelino
Freire, no parecer emittido sobre o livro diz não conhecer em toda nossa
literatura philologica trabalho nem mais completo nem mais util, e que, no
criterio, na meticulosidade e _______ [alguma palavra que termina com “certo, o
tempo apagou], exceda a do jovem ______ [palavra que começa com “ope”, também
apagada] e erudito professor.
Esforço
notavel o de Arthur de Almeida Torres escrevendo Regencia Verbal, por isso que
até 1931, época em que foi editada a 1ª. Edição, não existia sobre o assumpto
livro algum publicado no Brasil, a não ser o trabalho de Laudelino Freire
intitulado Verbos Portugueses. Os grammaticos, embora estejam sempre em foco as
questões verbaes, são falhos neste particular.
Citado
no prefacio pelo autor, Adolpho Coelho affirma, falando da dificuldade da
empresa, que ella não pode ser producto de um só homem, deve ser uma obra
academica auxiliada pelo Estado, quando não haja outros meios. E
por que, confiante em suas forças, se haja atirado com energia e decisão, à
feitura da obra é hoje Arthur de Almeida Torres não só um estimulo, senão
tambem um exemplo aos que se iniciam.
Tenacidade,
prudencia, sabedoria, foram-lhe as armas de combate nesta lucta edificante pela
crystallização de um ideal. Disse
o jovem professor que daria por bem compensado o esforço dispendido si delle
alguem pudesse tirar algum proveito em beneficio da formosa lingua:
“Em que da voz materna
ouvi:
Meu filho!
E em que Camões chorou
no exilio
Amargo
O genio sem ventura e o
amor sem
Brilho!”
Felizmente,
estão sendo comprehendidos os seus elevados propositos. Beneficios
incalculaveis está o seu livro prestando “à lingua que por sua suavidade
causará inveja a Cervantes”.
Mesmo
em não se tratando de uma critica, sentimo-nos receiosos pela ousadia dessas
linhas. Por seu intermedio, desejamos homenagear não apenas um collega culto e
erudito, mas uma figura que, pelos conhecimentos linguisticos, se impoz à
admiração dos doutos. Ha
sempre, como diria o elegante Aloysio de Castro, o natyral receio de que as
nossas palavras sejam uma dissonancia sobre tantas harmonias...
Geraldo Bezerra de Menezes
Artigo Publicado em:
“O Estado”
Niterói, 27 de outubro de 1936
“O Gladio”
órgão do Centro Acadêmico Evaristo da Veiga, da Fac. de Direito de Niterói,
agosto de 1936
Niterói, 27 de outubro de 1936
“O Gladio”
órgão do Centro Acadêmico Evaristo da Veiga, da Fac. de Direito de Niterói,
agosto de 1936
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