Quando se dança com lobos:
ou parceria - ou domesticação,
ou obediência - ou compaixão,
ou amor - ou devoção,
ou reverência - ou perdão.
Quando se dança com lobos
é uma magia da solidão,
fraquezas de tocar,
delicadezas de conversar.
E sentir que somos um só,
naturezas.
Rodolfo Lobato, 2014
Passo de Gigante
Faz de conta...
sexta-feira, 11 de abril de 2014
domingo, 6 de abril de 2014
Foi-se a Copa?
Adeus chutes e sistemas.
A gente pode, afinal,
cuidar de nossos problemas.
Faltou inflação de pontos?
Perdura inflação de fato.
Deixaremos de ser tontos
se chutarmos no alvo exato.
O povo, noutro torneio,
havendo tenacidade,
ganhará, rijo, e de cheio,
a Copa da Liberdade."
Jornal do Brasil, 24/6/1978
Carlos Drummond de Andrade
sábado, 5 de abril de 2014
A fumaça de pimenta
"O uso de gases nocivos (fumaça de pimenta) pelos tupinambá foi analisado primeiramente por Nordenskiöld. Este etnólogo explica a função dessa arma ofensiva pela necessidade de desalojar os inimigos de seus redutos fortificados (as paliçadas): 'com suas imperfeitas armas ofensivas, os índios deviam sentir grande dificuldade no assalto a uma aldeia que fosse bem fortificada'. [...] usavam pimenta Caiena, cuja fumaça produz efeitos análogos aos dos gases irritantes'. As informações em que estas explanações se baseiam são fornecidas por Hans Staden. [...]
'Isto se dá da maneira seguinte: quando o vento sopra, fazem uma grande fogueira e lançam-lhe dentro um montão de pés de pimenta. Se a fumaça dá de encontro às cabanas, o inimigo tem que sair então para fora.' (Hans Staden)". (42)
Florestan Fernandes, A função social da guerra na sociedade tupinambá
'Isto se dá da maneira seguinte: quando o vento sopra, fazem uma grande fogueira e lançam-lhe dentro um montão de pés de pimenta. Se a fumaça dá de encontro às cabanas, o inimigo tem que sair então para fora.' (Hans Staden)". (42)
Florestan Fernandes, A função social da guerra na sociedade tupinambá
sexta-feira, 4 de abril de 2014
SÊNECA, Sobre a brevidade da vida
“A maior parte dos mortais, Paulino, lamenta a maldade da
Natureza, porque já nascem com a perspectiva de uma curta existência..." 25
"Ninguém permite que sua propriedade seja invadida, e,
havendo discórdia quanto aos limites, por menor que seja, os homens pegam em
pedras e armas. No entanto, permite que outros invadam suas vidas de tal modo
que eles próprios conduzem seus invasores a isso. [...] São econômicos na
preservação de seu patrimônio, mas desperdiçam o tempo, a única coisa que
justificaria a avareza." 30
"Agradar-me-ia questionar qualquer um dentre os mais
velhos: 'Vemos que já atingiste o fim da vida, tens cem ou mais anos. Vamos,
fez o cálculo da tua existência. Conta quanto deste tempo foi tirado por um
credor, uma amante, pelo poder, por um cliente. Quanto tempo foi tirado pelas
brigas conjugais e por aquelas com escravos, pelo dever das idas e vindas pela
cidade. Acrescenta, ainda, as doenças causadas por nossas próprias mãos e
também todo o tempo desperdiçado. Verás que tens menos anos do que
contas'." 30-1
"Temes todas as coisas como os mortais, desejas outras
tantas tal qual os imortais." 31
"Não julgues que alguém viveu muito por causa de suas
rugas e cabelos brancos: ele não viveu muito, apenas existiu por muito tempo.
Julgas que navegou muito aquele que, tendo se afastado do porto, foi pego por
violenta tempestade e, errante, ficou à mercê dos ventos, ao capricho dos
furacões, sem, no entanto, sair do lugar? Ele não navegou muito, apenas foi
muito acossado." 43
"A velhice aflige tanto os seus espíritos infantis, que
chegam a ela despreparados e desarmados. Na verdade, nada foi previsto:
subitamente e sem estarem prontos chegam a ela, não percebendo que ficava mais
próxima todos os dias." 47
"Se quisesse dividir minha proposição em partes e
argumentos, muitos deles me ocorreriam para provar que é brevíssima a vida dos
homens ocupados." 49
"A vida se divide em três períodos: aquilo que foi, o
que é e o que será." 49
"Na verdade, eles [os homens ocupados] não tem tempo
para olhar para o passado e, se tivessem, lhes seria desagradável a recordação
de algo penoso." 50
"Uma alma segura e tranquila pode correr por todos os
momentos da vida; todavia, os espíritos dos homens ocupados estão sob um jugo,
não podem se dobrar sobre si próprios, não podem se contemplar. Por
conseguinte, a sua vida se precipita nas profundezas e, assim, como de nada
serve encher com líquido uma vasilha sem fundo, nada pode trazer de volta o
tempo, não importa quanto ele te foi dado, se não há onde retê-lo. Ele
atravessará os espíritos abalados e que nada apreendem." p 51
"somente o tempo presente pertence aos homens ocupados,
tempo este tão breve que não pode ser alcançado e que é retirado deles já que
está distraídos com muitas coisas." 51
"Velhos decrépitos desejam com súplicas um
prolongamento de poucos anos. Eles fingem ser mais novos do que realmente são
[...] morrem amedrontados, como se não estivessem deixando o vida, mas ela
estivesse sendo arrancada deles." 52
"Perguntas, talvez, a quem chamo de 'ocupados'? Não há
razão para pensares que se trate somente daqueles que só saem do tribunal
quando lhes são enviados os cães [ao apagar das luzes]..." 54
"Há aqueles cujo ócio mesmo é ocupado: seja na casa de
campl, em sua cama, na solidão [...] Deles não se pode dizer que a vida seja
ociosa, mas apenas que possuem uma ocipação indolente." 54
"É tamanha a debilidade e enfraquecimento de seus
espíritos, que eles não conseguem saber por si próprios quando sentem
fome!" 57
"Devemos perdoar também aos que investigam matérias
como esta: quem foi o primeiro a convencer os romanos a embarcar em um navio?
Foi Cláudio, por este motivo chamado Caudex, porque, entre os antigos, a
reunião de várias tábuas era chamada de caudex; de onde o nome de códices para
as tábuas de lei. Ainda hoje, os navios que carregam provisões pelo Tibre são
chamados, à maneira antiga, de codicariae." 60
"... Pompeu foi o primeiro a mostrar um combate, no
circo, com dezoito elefantes, tendo sido enviados criminosos para enfrentá-los
como se fosse uma batalha?" 61
"Seria bom que isso fosse esquecido para que, mais
tarde, alguém não aprendesse e invejasse uma ação, no mínimo, desumana. Quantas
trevas uma grande felicidade causa às nossas mentes! Acreditou estar acima das
leis da natureza quando atirou o bando de miseráveis a feras nascidas sobre
outros céus, quando proporcionou uma batalha entre animais tão díspares, quando
fez correr muito sangue diante do povo romano - aquele que, em breve, seria
obrigado a verter muito mais." 61-2
Promerium - espaço sagrado onde não era permitido construir,
nem plantar, situado fora das muralhas de Roma.
"Dentre todos, somente são ociosos os que estão livres
para a sabedoria, apenas estes vivem, pois não só controlam bem sua vida, como
também lhe acrescentam a eternidade." 64
"Os que se envolvem com muitos compromissos, os que
inquietam a si e aos outros, conscientes de suas insânias, após terem
percorrido, todos os dias, as portas de todos e não ter deixado de entrar em
nenhuma que estivesse aberta, após terem levado sua saudação interesseira às
mais longínquas casas, muito pouco terão visto numa cidade tão grande e
dilacerada por inúmeros desejos." 65
"É lícito afirmar que se dedicam aos verdadeiros
ofícios os que querem desfrutar, todos os dias, da intimidade de Zenão,
Pitágoras, Demócrito, Aristóteles, Teofrasto e de outros mestres das boas
artes." 66
"Nenhum deles vai te levar para morte, todos te
ensinarão a morrer; nenhum deles desperdiçará teus anos, te oferecerá os
seus..." 67
"Algo se perde no passado? Ele recupera com a memória.
Está no agora? Ele desfruta. Há de vir com o futuro? Ele antecede. A união de
todos os tempo em um só momento faz com que sua vida seja longa." 69
"Muito breve e agitada é a vida daqueles que esquecem o
passado, negligenciam o presente e temem o futuro. Quando chegam ao fim, os
coitados entendem, muito tarde, que estiveram ocupados fazendo nada." 70
"Talvez daí resulte o delírio dos poetas que alimentam
os erros dos homens com histórias nas quais se mostra Júpiter, embevecido pelo
desejo do coito, duplicando a duração da noite"[Júpiter, para conquistar
Alcmena e desfrutar mais de sua companhia, faz a noite durar o dobro]. 71
"O mais insolente rei dos persas [Xerxes], quando, por
grande espaço de campos, estendia o seu exército, o qual não podia medir pelo
número, mas sim pela extensão, verteu lágrimas, porque, em cem anos, ninguém
desta multidão de jovens haveria de estar vivo." 72
"E então, as alegrias deles são ansiosas? É que não se
apoiam sobre fundamentos sólidos, mas são perturbadas pela mesma inutilidade
que as origina." 72-3
"Os maiores bens demonstram inquietude, e as maiores
fortunas são as menos confiáveis. [...] De fato, tudo aquilo que vem por acaso é
instável, e o que mais alto se eleva, mais facilmente cai." p 73
"ambição provoca ambição" p 73
"Que estado de ânimo tinham aqueles aos quais eram
confiados os abastecimentos públicos, ameaçados com ferro, pedras, fogo, e pela
fúria de Calígula? Com enorme dissimulação, escondiam um mal latente embutido
entre as vísceras do Estado e, digo, agiam assim com razão. De fato, algumas
doenças devem ser curadas com a ignorância dos pacientes; muitos morreram por
conhecer a causa do seu mal." 78-9
"Certamente, miserável é a condição de todas as pessoas
ocupadas, mas ainda mais miserável a daqueles que sobrecarregam a sua vida de
cuidados que não são para si, esperando, para dormir, o sono dos outros, para
comer, que outro tenha apetite, que caminham segundo o passo dos outros e que
estão sob as ordens deles nas coisas que são as mais espontâneas de todas - amar
e odiar. Se desejam saber quão breve é a sua vida, que calculem quão exígua é a
parte que lhes toca." 81
"Por isso, quando vires, com frequência, uma toga
pretexta ou um nome célebre, no foro, não tenhas inveja, já que essas coisas se
obtêm a custo da própria vida. A fim de que um único ano lhes seja dado,
consumirão todos os seus anos." 82
"Vergonha daquele a quem, pela idade avançada, falta
fôlego no tribunal, defendendo causas vis e buscando o aplauso de um auditório
ignorante." 82
"Alguns chegam a organizar aquelas coisas que estão
além de suas vidas: a construção de grandes mausoléus, a dedicatória de
serviços públicos e jogos fúnebres e orgulhosas exéquias. Francamente, os
funerais destes, como se tivessem vivido pouquíssimo, deveriam ser conduzidos à
luz de tochas e velas." 84
Tradução: Lúcia Sá Rebello, Ellen Itanajara Neves Vranas, Gabriel Nocchi Macedo. - Porto Alegre: L&PM, 2013.
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