Passo de Gigante

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sábado, 19 de dezembro de 2015

Os 3 "s" da Petrobrás

Da crise, a oportunidade:
venderam o pré-sal 
como bilhete premiado,
vã(n)glória da riqueza
   - (s)em trabalho.

Em sociedade hodierna, 
com o petróleo seremos,
no máximo, um Iraque,
vã(n)glória da riqueza
 - (s)em guerra.

Apoiando uma nação
na venda do seu solo, minérios,
água e animais
absteremos do Bras
em detrimento do Petro
vã(n)glória da riqueza
 - (s)em natureza.



Rodolfo Lobato
2015

domingo, 18 de outubro de 2015

Chopin

Confuso e rápido
Loucura da pressa
Embriagado fico
Numa felicidade cega

Vejo o fluxo do rio que passa
E de todos que somos, essa massa,
Agarramos, amamos o que se vai

Tristeza, melancolia futura
De um passado que é
Mais do que um instante qualquer...
Desenho, retrato ou pintura.

De repente o movimento lento, que ira!
Não sei pra onde olhar
Mas como numa mágica
Surge do nada uma trilha.

De pontos sozinhos
Compostos em harmonia
Saem o voltam seguidos
De grande sinfonia.

Rodolfo Lobato, 2003

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Artérias Latinas

Triste dia,
Eduardo Galeano morreu.
Não era só um escritor,
era como um avô meu.
Nas tintas,
desencontros, medos,
violência, feridas.
Na América Latina,
encontros, consciências,
esperanças, vidas.
E hoje, em seu barco,
não precisarás de moeda,
Leva a paz, e com ela
- descansará mais.

Divitae enim apud spientem virum in servitute sunt, apud stultum in imperio
Seneca
"as riquezas estão a serviço do sábio, mas comandam o estúpido"


Rodolfo Lobato
Rio de Janeiro, 14 de abril de 2015

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

A mão e o vento por Pessoa


 FOI UM MOMENTO

Fernando Pessoa

Foi um momento
O em que pousaste
Sobre o meu braço,
Num movimento
Mais de cansaço
Que pensamento,
A tua mão
E a retiraste
Senti ou não?

Não sei. Mas lembro
E sinto ainda
Qualquer memória
Fixa e corpórea
Onde pousaste
A mão que teve
Qualquer sentido
Incompreendido.
Mas tão leve!...

Tudo isto é nada,
Mas numa estrada
Como é a vida
Há muita coisa
Incompreendida...

Sei eu se quando
A tua mão
Senti pousando
Sobre meu braço,
E um pouco, um pouco,
No coração,
Não houve um ritmo
Novo no espaço?

Como se tu,
Sem o querer,
Em mim tocasses
Para dizer
Qualquer mistério,
Súbito e etéreo
Que nem soubesses
Que tinha ser.

Assim a brisa
Nos ramos diz
Sem o saber
Uma imprecisa
Coisa feliz.

domingo, 23 de novembro de 2014

1 kg de sal

Conhece alguém, quando só ontem
O já trilhado é caminho e destino
Ou mito não dito no passado,
Omitido no whisky ou no vinho
 - um misto de risco
Nada mais, que um quilo de sal
– além, são sais,
 os sentidos,
segredos e abrigos.

Rodolfo Lobato (novembro/2014)

domingo, 6 de abril de 2014

Foi-se a Copa?

"Foi-se a Copa? Não faz mal.
Adeus chutes e sistemas.
A gente pode, afinal,
cuidar de nossos problemas.

Faltou inflação de pontos?
Perdura inflação de fato.
Deixaremos de ser tontos
se chutarmos no alvo exato.

O povo, noutro torneio,
havendo tenacidade, 
ganhará, rijo, e de cheio,
a Copa da Liberdade."

Jornal do Brasil, 24/6/1978
Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Quadrilha atualizada

Pedro vigiava Amanda que vigiava José
que vigiava Maria que vigiava Sérgio que vigiava Amarildo
que não vigiava ninguém
Pedro era polícia, Amanda, sua mulher, precisava de um médico,
José foi pra rua, Maria queria educação,
Se bobear o Sérgio vai fugir, e Amarildo...
Cadê o Amarildo?

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Sabedorias do trabalho

"Em nome de vocês...
Que ao homem comum ensinem
a glória da rotina e das tarefas
de cada dia e de todos os dias;
que exaltem em canções
o quanto a química e o exercício
da vida não são desprezíveis nunca,
e o trabalho braçal de um e de todos
— arar, capinar, cavar,
plantar e enramar a árvore,
as frutinhas, os legumes, as flores:
que em tudo isso possa o homem ver
que está fazendo alguma coisa de verdade,
e também toda mulher
usar a serra e o martelo
ao comprido ou de través,
cultivar vocações para a carpintaria,
a alvenaria, a pintura,
trabalhar de alfaiate, costureira,
ama, hoteleiro, carregador,
inventar coisas, coisas engenhosas,
ajudar a lavar, cozinhar, arrumar,
e não considerar desgraça alguma
dar uma mão a si próprio."

Walt Whitman

10 de junho de 1580

"E vi que todos os danos
se causavam das mudanças,
e as mudanças dos anos,
onde vi quantos enganos
faz o tempo às esperanças.
Ali vi o maior bem,
quão pouco espaço que dura,
o mal quão depressa vem,
e quão triste estado tem
quem se fia da ventura". 

(Camões)


Em 10 de junho de 1580 falece em Lisboa Luís Vaz de Camões. Seu corpo é sepultado num canto qualquer do cemitério do Convento de Santana. E ainda assim graças à Companhia dos Cortesãos, que paga as despesas do funeral. Os últimos anos de Camões são vividos na mais absoluta miséria.

sábado, 8 de junho de 2013

Tempo de (in)sanidade

de quem não fala
de quem não ri
muito já vi
muito se cala.

Esse 'eu' infeliz,
que horror!
diz não mais
sofrer por amor.
ou, ao que fiz
mas já não quis
fazer por uma - flor.




inverno calor
frio verão
calmo furor
- só estação.
só está são?

Rodolfo Lobato
2005

segunda-feira, 3 de junho de 2013

A culpa é de um

"Quiza fue una hecatombe de esperanzas
un derrumbe de algun modo previsto
ah pero mi tristeza solo tuvo un sentido

todas mis intuiciones se asomaron
para verme sufrir
y por cierto me vieron

hasta aqui habia hecho y rehecho
mis trayectos contigo
hasta aqui habia apostado
a inventar la verdad
pero vos encontraste la manera
una manera tierna
y a la vez implacable
de desahuciar mi amor

con un solo pronostico lo quitaste
de los suburbios de tu vida posible
lo envolviste en nostalgias
lo cargaste por cuadras y cuadras
y despacito
sin que el aire nocturno lo advirtiera
ahi nomas lo dejaste
a solas con su suerte
que no es mucha

creo que tenes razon
la culpa es de uno cuando no enamora
y no de los pretextos
ni del tiempo

hace mucho muchisimo
que yo no me enfrentaba
como anoche al espejo
y fue implacable como vos
mas no fue tierno

ahora estoy solo
francamente
solo

siempre cuesta un poquito
empezar a sentirse desgraciado

antes de regresar
a mis lobregos cuarteles de invierno

con los ojos bien secos
por si acaso

miro como te vas adentrando en la niebla
y empiezo a recordarte."


Mario Benedetti

http://www.youtube.com/watch?v=G--5KynyJSg

quinta-feira, 9 de maio de 2013

L'habitude

L'habitude est une étrangère
Qui supplante en nous la raison :
C'est une ancienne ménagère
Qui s'installe dans la maison.

Elle est discrète, humble, fidèle,
Familière avec tous les coins ;
On ne s'occupe jamais d'elle,
Car elle a d'invisibles soins :

Elle conduit les pieds de l'homme,
Sait le chemin qu'il eût choisi,
Connaît son but sans qu'il le nomme,
Et lui dit tout bas : "Par ici."

Travaillant pour nous en silence,
D'un geste sûr, toujours pareil,
Elle a l'oeil de la vigilance,
Les lèvres douces du sommeil.

Mais imprudent qui s'abandonne
A son joug une fois porté !
Cette vieille au pas monotone
Endort la jeune liberté ;

Et tous ceux que sa force obscure
A gagnés insensiblement
Sont des hommes par la figure,
Des choses par le mouvement.

Sully Prudhomme

terça-feira, 7 de maio de 2013

diálogo com Baudelaire

- Baudelaire,
as drogas,
o que são?

- Pelo infinito
há uma humana
inclinação.

Talvez,
mais do que isso,
medo e tesão
- pelo precipício.

Rodolfo Lobato, 2005

Ilha dos Sentimentos

Em uma ilha
A Paixão, a Inveja, o Ódio,
O Amor, a Ganância, entre outros...
Dividiam o mesmo território.

A Sabedoria avisa sobre uma tragédia,
Em que o mar subiria,
Deixando todos sem moradia.
E aquele que não acreditasse se afogaria.

Nessa hora o Egoísmo fugiu,
A Inveja o acompanhou,
A Paixão lançou-se ao mar,
E assim todos queriam embarcar.

Com exceção do Amor,
Que olhava a Ilha,
Declarava seu amor a cada pedaço,
Sua necessidade e dependência
De sua areia, das árvores, da terra,
Que sua amada era sua essência.

Quando o mar sobe,
Só o Amor fica.
Ao toque frio da água,
Enxerga nesse instante a morte,
Enquanto conta com a sorte.

Desejando sair,
Quando percebe seu destino,
E que não pode salvar sua amada,
Eis que passa o Egoísmo de barco,
Após a chamada do Amor,
O Egoísmo não diz nada.

Depois de tomada de água,
Quase se afogando,
Surge um barco,
Tirando o Amor do fim.

Declarando seu amor,
Idolatra o barco, o mar,
E a presença do seu salvador.

Ao chegar num porto seguro,
O amor percebe que não conhecia,
Aquele que possibilitou
E renovou sua energia.

Correndo atrás da Sabedoria,
O Amor queria saber,
Cantar seu novo amor.

Ao encontrar a Sabedoria, pergunta:
- Quem foi que me salvou?
- Você não sabe?!
- Ele nada falou!
- Então aprenda,
De uma vez por todas,
Pois o único que te entende,
Por mais que eu te compreenda,
É o Tempo.

2003

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

O TAL DO ÊMER

Prefiro o "amor" francês
Tal é "aimer" - mais leve!
Não rima com dor,
Mas com querer, ser!
Já "ter" é "avoir" -
e a voar nunca se está preso.
São sonhos no ar,
ou cheiro de brisa do mar.
Estão lá por um motivo,
Pra dizer que está vivo!
E se a vida é uma gota
Essa gota é nossa vida -
Vira ar, vira mar - é viagem!
E em cada momento tem um lar -
lá, justamente onde está
é o fim e a passagem.
Carinho que faz do nosso futuro
o presente do cuidado com o outro - o próximo!
Não o que encontramos em nosso caminho,
Mas aquele capaz de modificá-lo.
Eis o TAO do aimer,
Só pra dizer quero você!

Rodolfo Lobato
Janeiro de 2013

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Emendas e acréscimos ao livro A Alma do Homem

Manuscrito III - Geraldo M. Bezerra de Menezes





“Mercê de Deus, não fraqueja
em minha fé no mistério;
é triste ver o que vejo:
alguém não levá-lo a sério.” 
14/09/94


“Coragem!
Um marca-passo
no coração –
período escasso
de duração...”


“Não vejo o ‘enterro’ passar,
nem ouço o dobrar do sino...
Pergunto-me, ao despertar:
- Por que não morri menino?”


“É triste a doença moral,
reduz o homem e o aleija,
evitem, pois, este mal,
não cedam nunca à inveja.”


“Perdi o medo da morte,
tornei-a muito querida;
ouvi o meu São Francisco
- ‘a morte é a fonte da vida’.”

Anotações ao lado do poema “NETOS”:

“Eu sou o ‘velho’ Geraldo,
um pobre avô moribundo,
que vive uns anos de saldo,
perdido à tôa no mundo...”

Anotações ao lado do poema “As rosas do meu sítio”:

“Ao ver-me tão feliz naquele dia,
um pássaro pousou sobre o meu ombro;
unidas, a verdade e a fantasia,
enchendo-me de paz e de assombro.”


“Nadando
Eu vou com Deus, vou nadando,
nadando e sempre a sonhar;
eu vejo no alto do Céu,
os meus caminhos do mar.”


“Esta leitura que faço,
declaram mal inspirada:
no fundo, não vale nada,
apenas ocupa espaço.

Do povo, é boa a memória,
sorri, sorrindo à traça...
e sabe que, pobre ou grossa,
aos gênios, não rouba a glória.

Erraram, pois, o caminho,
jamais neguei meus heróis,
por todos, tenho carinho.
 Por que deixá-los à míngua?
Aqui, desvendo faróis:
os grandes poetas da língua.”

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Chove

de Fernando Pessoa  

Chove. Há silêncio, porque a mesma chuva
Não faz ruído senão com sossego.
Chove. O céu dorme. Quando a alma é viúva
Do que não sabe, o sentimento é cego.
Chove. Meu ser (quem sou) renego...
Tão calma é a chuva que se solta no ar
(Nem parece de nuvens) que parece
Que não é chuva, mas um sussurrar
Que de si mesmo, ao sussurrar, se esquece.
Chove. Nada apetece...

Não paira vento, não há céu que eu sinta.
Chove longínqua e indistintamente,
Como uma coisa certa que nos minta,
Como um grande desejo que nos mente.
Chove. Nada em mim sente...

sábado, 31 de dezembro de 2011

Para Ricardo Antunes, de Alexandre Antônio Náder:


"Por errar,
Adão trabalhou,
Por trabalhar,
Prometeu errou.

Adãos - Prometeus,
Errantes - trabalhadores,
Mulheres e homens
Portadores do estigma.

Quem assim determinou?
Por errar, trabalhar,
Por trabalhar, errar.

Mister romper a maldição:
Não mais trabalhar por errar,
Não mais errar por trabalhar."


quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Numa terra em que Araribóia virou Martim Afonso
Funda-se na guerra uma cidadela histórica.
Aqui criou-se o Partido Comunista,
O prefeito, hoje, é Jorge Roberto Silveira,
A Cantareira virou uma privada,
O morro do Bumba virou desastre,
E a moradia é cara.
- Feliz está a especulação imobiliária.

Parabéns niteroienses que sonham,
Hoje a cidade faz aniversário.
Nossa luta é de toda a Baía de Guanabara!

Que as águas voltem a ser limpas
Para que no reflexo vejamos melhor:
- As injustiças e todos os seus nexos.

(Rodolfo Lobato, 22/XI/2011)

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Victor HUGO (1802-1885) - Desejo

"Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.

Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.

Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.

Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.

Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.

 Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.

Desejo que você descubra ,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.

Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.

Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.

Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga "Isso é meu",
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.

Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.

Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar ".