Passo de Gigante

Faz de conta...









sábado, 31 de dezembro de 2011

Para Ricardo Antunes, de Alexandre Antônio Náder:


"Por errar,
Adão trabalhou,
Por trabalhar,
Prometeu errou.

Adãos - Prometeus,
Errantes - trabalhadores,
Mulheres e homens
Portadores do estigma.

Quem assim determinou?
Por errar, trabalhar,
Por trabalhar, errar.

Mister romper a maldição:
Não mais trabalhar por errar,
Não mais errar por trabalhar."


quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

mudanças

‎2012: Se
"Fôssemos infinitos
Tudo mudaria
Como somos finitos
Muito permanece".
B. Brecht

Eduardo Galeano - Sangue Latino

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

"Ao descrevermos uns para os outros os nossos amores e ódios, sentimentos e ressentimentos, devemos usar os termos de nossos anúncios, nossos cinemas, nossos políticos e nossos bestesellers. Devemos usar os mesmos termos para descrever os nossos automóveis, alimentos e móveis, colegas e competidores - e nos entendemos uns aos outros perfeitamente. Tem necessariamente de ser assim, porque a linguagem nada tem de particular e pessoal, ou, antes, porque o particular e pessoal é mediado pelo material lingüístico disponível, que é material social. Mas essa situação impede a linguagem ordinária de preencher a função validadora que ela desempenha na Filosofia analítica. "O que as criaturas querem dizer quando dizem..." se relaciona com o que não dizem. Ou, o que elas intentam dizer não pode ser considerado em seu sentido imediato - não porque estejam mentindo, mas porque o universo do pensamento e da prática em que vivem é um universo de contradições manipuladas."

Herbert Marcuse
 "A Vitória do Pensamento Positivo: Filosofia Unidimensional"

"... a questão sobre quais necessidades [humanas] devam ser falsas ou verdadeiras só pode ser respondida pelos próprios indivíduos, mas apenas em última análise; isto é, se e quando eles estiverem livres para dar a sua própria resposta. Enquanto eles forem mantidos incapazes de ser autônomos, enquanto forem doutrinados e manipulados (até os seus próprios instintos) a resposta que derem a essa questão não poderá ser tomada por sua. E, por sinal, nenhum tribunal pode com justiça se arrogar o direito de decidir quais necessidades devam ser incrementadas e satisfeitas. Qualquer tribunal do gênero é repreensível, embora a nossa irritação não elimine a questão: como podem as pessoas que tenham sido objeto de dominação eficaz e produtiva criar elas próprias as condições de liberdade?"

Herbert Marcuse
"Ideologia da Sociedade Industrial"

Segredos, por Edgar Allan Poe

"Há certos segredos que não se deixam contar. Homens morrem toda noite em suas camas, torcendo as mãos de fantasmagóricos confessores e fitando-os lamentosamente nos olhos - morrem com desespero no coração e convulsões na garganta, por causa do horror de mistérios que não aceitam ser revelados. Infelizmente, a consciência humana às vezes carrega tão pesado fardo de pavor que só no túmulo consegue desembaraçar-se dele. E assim a essência de todo crime permanece irrevelada."

Edgar Allan Poe
O Homem da Multidão

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Joseph Brodsky


“Vocês vão se entediar com seus empregos, suas esposas, suas amantes, a vista de suas janelas, a mobília ou o papel de parede do seu quarto, seus pensamentos, vocês mesmos. Conseqüentemente, vocês vão encontrar maneiras de fugir. Além dos artifícios de auto-satisfação mencionados acima, vocês podem recorrer à mudança de emprego, de residência, de empresa, de país, de clima, podem assumir a promiscuidade, o álcool, viagens, aulas de culinária, drogas, psicanálise [...]

De fato, você pode juntar tudo isso, e por um instante pode ser que funcione. Até, é claro, o dia em que você acorda em sua cama em meio a uma nova família e a outro papel de parede, num Estado e num clima diferentes, com uma pilha de contas do seu agente de viagem e do seu analista, e no entanto com o mesmo sentimento desagradável em relação à luz do dia que se infiltra pela janela...” (Joseph Brodsky, filósofo e poeta russo - sobre a compulsão à fuga)

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Numa terra em que Araribóia virou Martim Afonso
Funda-se na guerra uma cidadela histórica.
Aqui criou-se o Partido Comunista,
O prefeito, hoje, é Jorge Roberto Silveira,
A Cantareira virou uma privada,
O morro do Bumba virou desastre,
E a moradia é cara.
- Feliz está a especulação imobiliária.

Parabéns niteroienses que sonham,
Hoje a cidade faz aniversário.
Nossa luta é de toda a Baía de Guanabara!

Que as águas voltem a ser limpas
Para que no reflexo vejamos melhor:
- As injustiças e todos os seus nexos.

(Rodolfo Lobato, 22/XI/2011)

domingo, 23 de outubro de 2011

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Victor HUGO (1802-1885) - Desejo

"Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.

Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.

Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.

Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.

Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.

 Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.

Desejo que você descubra ,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.

Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.

Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.

Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga "Isso é meu",
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.

Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.

Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar ".

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Transporte... uma reflexão...

Por que será que o transporte virou um problema tão grave??

Se hoje: (1) nós vivemos muito mais do que os homens do passado, (2) os grandes trajetos são percorridos em muito menos tempo, (3) a maior parte das pessoas moram em centros urbanos, o que diminui os espaços a serem percorridos, (4) a tecnologia da informação (internet, telefone...) permite que determinadas atividades possamm ser resolvidas à distância. etc... Por que o trânsito é um problema tão grave?

A grande parte das críticas têm dois focos: circulação de mercadorias, o que pode dificultar o "desenvolvimento econômico" de determinada região ou cidade; e a circulação de pessoas. A circulação de pessoas também pode ser percebida através de outros dois focos; (*)daquelas que viajam/circulam em momentos de lazer/turismo/diversão, essas pessoas são atraentes pois trazem dinheiro para gastar (ou seja, carregam mercadorias na forma dinheiro para determinadas cidades "se desenvolverem"); (*) e daquelas pessoas que vão trabalhar todos os dias e retornam do trabalho todos os dias, ou seja, vivem vendendo diariamente sua força-de-trabalho (traduzindo, trocam a mercadoria trabalho pela mercadoria dinheiro).

No final das contas estaríamos nós diante de um problema crucial para o desenvolvimento capitalista: a velocidade de troca de mercadorias? Ou estaríamos diante de um problema que não tem nenhuma relação com a economia/política/cultura? Será o problema de trânsito uma questão de engenharia de cálculos ou de uma engenharia social?