Passo de Gigante

Faz de conta...









terça-feira, 28 de maio de 2013

Geribá

Mille e seu namorado (R) estavam na bela praia de Geribá, em Búzios (RJ). Curtindo o Sol e o mar juntos com 3 amigas de trabalho de Mille e seus respectivos namorados, maridos e amantes.
Em um determinado momento R pergunta: "alguém sabe o que significa Geribá?"
Diante do silêncio e das cabeças que diziam não, apressa-se R em responder que a origem é uma onomatopeia! Segundo ele:
"O nome é a reprodução do som daquela ave [aponta]. Que, para se alimentar, mergulha perto das ondas. O som das asas com o vento faz quase um"GI". Quando vira as asas para o mergulho faz um "GÊ...". GI"R"A no ar  "i...i...i..." cai, mergulha. Finalmente faz "bá" [bate palma] na água. Foram os pescadores da praia que batizaram o nome da praia e do pássaro. Não é!?"
Enquanto isso, Mille já pesquisava em seu celular a origem  do nome. Rindo por dentro, e sem querer deixar o namorado sem graça na frente dos amigos, diz que sim. Mas já sabia que Geribá é o nome de um tipo de palmeira, a Syagrus romanzoffiana.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Dialética da Escravidão

13 de maio.  No dia em que se comemora "A Lei Áurea", com a abolição da escravidão, comemora-se, também, um novo artigo do código oculto da burocracia brasileira: o esquecimento. A partir dessa lei, denunciando toda crueldade que nunca mais deveria mais existir em solo pátrio, "decidiram" pela destruição dos arquivos e dados oficiais sobre o comércio de escravos no Brasil.  Registro, ou documento, que era, por mais cruel que fosse, uma das únicas formas de conhecimento de pessoas que passaram, de mercadoria em esquecimentos. De pessoas visíveis em pessoas invisíveis. E, assim, perdeu-se o conhecimento, também (!), daqueles que enriqueceram sequestrando pessoas, torturando e matando em suas terras.  O senador Souza Dantas (1831-1894) falou em Reforma Agrária para indenizar os escravos. Anos antes (em 1850), quando proibiu-se a compra de escravos da África (comércio internacional), os grandes proprietários estimularam a criação da "Lei de Terras", maquiavelismo brasileiro revelado por José de Souza Martins: "se o trabalho for livre a terra deve ser cativa".

"Mas, embora, meus senhores
se festeje a Liberdade,
a gentil Fraternidade
não raiou de todo, não!... "

Cruz e Souza (1882)

quinta-feira, 9 de maio de 2013

L'habitude

L'habitude est une étrangère
Qui supplante en nous la raison :
C'est une ancienne ménagère
Qui s'installe dans la maison.

Elle est discrète, humble, fidèle,
Familière avec tous les coins ;
On ne s'occupe jamais d'elle,
Car elle a d'invisibles soins :

Elle conduit les pieds de l'homme,
Sait le chemin qu'il eût choisi,
Connaît son but sans qu'il le nomme,
Et lui dit tout bas : "Par ici."

Travaillant pour nous en silence,
D'un geste sûr, toujours pareil,
Elle a l'oeil de la vigilance,
Les lèvres douces du sommeil.

Mais imprudent qui s'abandonne
A son joug une fois porté !
Cette vieille au pas monotone
Endort la jeune liberté ;

Et tous ceux que sa force obscure
A gagnés insensiblement
Sont des hommes par la figure,
Des choses par le mouvement.

Sully Prudhomme

terça-feira, 7 de maio de 2013

diálogo com Baudelaire

- Baudelaire,
as drogas,
o que são?

- Pelo infinito
há uma humana
inclinação.

Talvez,
mais do que isso,
medo e tesão
- pelo precipício.

Rodolfo Lobato, 2005

Ilha dos Sentimentos

Em uma ilha
A Paixão, a Inveja, o Ódio,
O Amor, a Ganância, entre outros...
Dividiam o mesmo território.

A Sabedoria avisa sobre uma tragédia,
Em que o mar subiria,
Deixando todos sem moradia.
E aquele que não acreditasse se afogaria.

Nessa hora o Egoísmo fugiu,
A Inveja o acompanhou,
A Paixão lançou-se ao mar,
E assim todos queriam embarcar.

Com exceção do Amor,
Que olhava a Ilha,
Declarava seu amor a cada pedaço,
Sua necessidade e dependência
De sua areia, das árvores, da terra,
Que sua amada era sua essência.

Quando o mar sobe,
Só o Amor fica.
Ao toque frio da água,
Enxerga nesse instante a morte,
Enquanto conta com a sorte.

Desejando sair,
Quando percebe seu destino,
E que não pode salvar sua amada,
Eis que passa o Egoísmo de barco,
Após a chamada do Amor,
O Egoísmo não diz nada.

Depois de tomada de água,
Quase se afogando,
Surge um barco,
Tirando o Amor do fim.

Declarando seu amor,
Idolatra o barco, o mar,
E a presença do seu salvador.

Ao chegar num porto seguro,
O amor percebe que não conhecia,
Aquele que possibilitou
E renovou sua energia.

Correndo atrás da Sabedoria,
O Amor queria saber,
Cantar seu novo amor.

Ao encontrar a Sabedoria, pergunta:
- Quem foi que me salvou?
- Você não sabe?!
- Ele nada falou!
- Então aprenda,
De uma vez por todas,
Pois o único que te entende,
Por mais que eu te compreenda,
É o Tempo.

2003

Anedotas e as Mudanças Climáticas



Duas anedotas contam histórias do mundo jurídico que podem ajudar a determinadas reflexões sobre os desafios ambientais que hoje são colocados; não pelo conteúdo em si das mesmas, mas, principalmente, pela forma caricatural como são retratados os personagens e a solução dos problemas impostos.

A primeira conta a história de um mesmo problema em que estavam envolvidas duas empresas, uma norte-americana e a outra inglesa. As duas empresas atuavam no mesmo ramo de negócios na Ásia, quando aparecem denúncias sobre problemas ambientais. A empresa inglesa, imediatamente, contrata 100 engenheiros para solucionar o problema. Diferentemente, a empresa norte-americana contratou 100 advogados.

Ao visitar o lixão da cidade de Açailândia (MA) encontrei situações que, infelizmente, não são novas: trabalhadores sem nenhum tipo de proteção no trabalho de coleta, seja de equipamentos adequados ou proteção legal como registro e organização do trabalho (cooperativas etc.); ausência de separação do lixo orgânico dos demais; contato direto do lixo acumulado com a vegetação (amazônica) do entorno. Ao mesmo tempo, identificamos que grande parte da produção de resíduos na cidade não é fruto, apenas, do consumo dos cidadãos, mas das atividades industriais e agropecuárias presentes, principalmente da siderurgia. Seja através de resíduos lançados ao ar, fumaça e poeira que, segundo os moradores da cidade, causam uma série de problemas de saúde (que inclui problemas respiratórios e de visão); ou dos resíduos produzidos pela Vale S.A. que, ao limpar os trilhos da Estrada de Ferro Carajás, lança produtos químicos nos rios da região sem qualquer tratamento (denunciam os moradores da cidade).

Em reunião na Secretaria de Educação de Açailândia, ouvimos que diversos problemas enfrentados pela administração da cidade tinham uma origem comum:  comportamentos herdados de povos tradicionais (indígenas p.ex.) - que não sabiam se relacionar com as exigências modernas de cuidado com o meio ambiente. Ou seja, a população precisaria ser educada. Em sequência ouvimos e participamos de oficinas que mostravam o quanto a Vale S.A. e as siderúrgicas da cidade realizavam o completo aproveitamento dos resíduos produzidos e, além, transformando-os ainda em mercadorias (como as diferentes formas de fertilizantes produzidos que, na realidade, são resíduos da produção do ferro gusa).

A segunda anedota conta a história de dois advogados conhecidos que encontraram-se, por acaso, no hall de entrada de um motel. O problema é que os advogados estavam com as esposas trocadas, um casal saía do motel no momento em que o outro casal chegava. O advogado que estava saindo do motel logo inicia o diálogo: “Estamos numa situação bem delicada! O bom e justo seria que destrocássemos os casais para tudo terminar bem”. O outro replica: “Bom seria, mas justo não! Você está saindo... eu estou entrando”.

Para um morador da região Sudeste do Brasil (meu caso) é simples falar em limitar determinadas atividades econômicas no Norte quando as minhas necessidades de energia, transporte, acesso a água já estão, desigualmente, satisfeitas. O problema surge quando, com o aprendizado de nosso próprio passado, nos encontramos com situações de desigualdade tais que nos obrigam e relativizar a noção de “custo/benefício do desenvolvimento” e encontramos limitações de acesso a luz, transporte, educação e saúde.

Há um ponto de equilíbrio entre a possibilidade e a permissividade em degradar, poluir versus as regras de mercado de desenvolver, crescer e lucrar? Até que ponto podemos suportar a situação que nos encontramos de desenvolvimento ad infinito de formas de produzir e auferir renda? Seria anacrônico falar em planejamento econômico? Por que é fácil falar que precisamos impor limites para comportamentos individuais e, em sentido contrário, não é nada fácil colocar limites para empresas, corporações e Estados na busca do desenvolvimento? Por que é mais fácil culpar um agricultor pelo uso de um determinado fertilizando ou agrotóxico e não a empresa que os produziu a partir da noção de política reversa?