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sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Discurso de formatura

"Pais, Mestres e Amigos...

Certa vez, um estudante que passou tanto no vestibular da UFF quanto no da UFRJ, apareceu no ICHF. Ele queria saber qual das faculdades de ciências sociais era melhor. Nessa ocasião responderam que professores bons e ruins existem em todas, mas para saber, /Há de estudar com amor,/ E ver no Gragoatá o Sol de pôr.

O Sol ilumina,/ Um conto contado sem assombro, /De todos os personagens dessa história,/ Seremos imagens guardadas na memória,/ Quando estivermos acompanhados/ De uma só sombra.// Separados,/ Vemos a unidade,/ Diferenças, conflitos e sonhos.

Bom, falarei da Universidade, que na verdade é uma localidade, quase uma entidade. Para o que mal a conhece, perdoa-me pelos detalhes que não poderei falar. Não tente imaginá-la, deixe a imagem flutuar, passe de leve; a menor idéia lhe bastará.

Gostaria de apresentar algumas questões. A primeira se refere ao fato de que estudar na Universidade Pública significou conviver com greves, isto é, conviver com a luta contra a privatização, que ocorre de forma gradativa. A resistência histórica dos professores, técnico-administrativos e estudantes, desde a greve de 1996 que derrubou o Projeto de Emenda Constitucional n. 370 (PEC-370), que já visava instituir a possibilidade de cobrança de mensalidades naquele momento; denunciamos as propostas de autonomia financeira que desresponsabilizava o governo federal de custear a educação. A greve coloca hoje, sob o pano de fundo dos atos de corrupção do governo Lula, velhos objetivos de deixar o ensino superior nas mãos invisíveis do mercado. Repetimos: educação não é mercadoria!

Falar que o mercado dará o tom da música em que dançaremos a sinfonia das ciências sociais, quer dizer que tocaremos uma marcha fúnebre. Pois as ciências sociais desarmadas da crítica ao status quo, Capital/capitalismo, representará a morte do pensamento criativo e transformador.

Hoje, mais da metade dos estudantes do ensino superior pagam mensalidades, não pagamos. Temos o direito de exigir uma nova direção, uma nova reitoria, o direito e a possibilidade de pesquisar. Mas isso não quer dizer que vocês estão olhando para privilegiados, para uma futura elite nacional, para futuros politiqueiros. Estudar ciências sociais significa, acima de tudo, renúncias e opções.

Renunciamos o amor cego ao dinheiro, pela capacidade de ver através das letras, de ver através das falas, de ver através. Renunciamos às certezas de uma vida sem questionamentos, aos questionamentos de uma vida de certezas. Isto é, escolhemos ser mal compreendidos, e, assim, descobrir novos significados para as palavras: etnocentrismo, preconceito, igualdade e liberdade.

Falar em universidade é falar em profissões, com significados diferentes, em escolhas. Quais valores a UFF deveria passar para formar um cientista social?

Nietzsche diz que uma profissão nos torna irrefletidos; nisso estaria sua maior bênção. Pois ela é um baluarte, atrás da qual podemos licitamente nos retirar, quando nos assaltam dúvidas e preocupações comuns.

Depois de quase cinco anos aqui dentro queria mandar um recado pra Nietzsche: você está errado. O cientista social formado pela UFF utiliza suas dúvidas e preocupações comuns como objetos de análise de um mundo onde não nos retiraremos. Como espelhos que aumentam e diminuem as imagens, refletimos o que há de pior e melhor; e num mundo onde reina o conflito e a desigualdade, sejamos a mudança.

Boa Noite!
Rodolfo Lobato, 05 de setembro de 2005.

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