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quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Niterói


"A região metropolitana do Rio de Janeiro, onde legalmente Niterói se insere, tem, como toda metrópole, tentáculos multidirecionais que se enredam com base na matriz impessoal definida pelo seu labirinto. É isso! A metrópole é um labirinto... E todo labirinto esconde um Minotauro que exige sacrifícios de carne humana...
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Para matar o Minotauro de Creta, o ateniense Teseu valeu-se do fio de Aiadne, através do qual pode reconhecer o caminho da saída. Ao deitar o fio, Teseu marcou o seu trajeto, apossando-se de certo modo dele, como o flâneur [andarilho] se apodera da cidade ao vagar irrefletidamente por ruas e praças. Ao identificar o fio ele separou o seu trajeto do contínuo infinito de trajetos possíveis e assim se salvou.
Nosso fio de Ariadne, nossas marcas para fugir do monstro, são os monumentos que distinguem nossos caminhos do contínuo impessoal.
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Os bens municipais verdadeiros são aqueles que fazem eclodir em cada niteroiense uma reação peculiar e que o distingue conscientemente do carioca ou do brasileiro genérico. São notas características da cidade que não são perceptíveis senão aos detentores de um quê peculiar que os faz confrades nessa comunidade (gemeinschaft) que se define como Niterói.
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Rio e Niterói são cidades espelhadas, filhas da Guanabara que as gerou juntas para destinos interligados. O inimigo é a metrópole que pode fagocitar Niterói, reduzindo-a a um subúrbio. Cumpre vigiar a metrópole como faz Araribóia de pé em frente à dua da Conceição, e dar o alarme quando a civilização (gesellschaft) deixar de ser vizinha e ameaçar a kultur provinciana, engolindo Niterói como fez com Nilópolis, Meriti, Queimados...
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Antes porém de Teseu e Ariadne, e do rei Minos prender o Minotauro, Dédalo, arquiteto do labirinto, se havia enredado na sua própria criação. Preso no palácio e não lhe encontrando a saída, atou com cera de abelhas asas às costas e voou. Ao engenho que lhe permitiu transcender as teias incompreensíveis do labirinto. Voando salvou-se.
E o vôo de Dédalo permitiu ver o labirinto do alto, à distância. E, à distância, compreendê-lo, desvendá-lo. Assim, Niterói, como Araribóia, ao ver o Rio de Janeiro do outro lado salva-se por se descobrir do lodo de cá, em oposição ao perigoso 'outro'. Daí que, para preservação da personalidade cultural de Niterói, a melhor coisa é a vista do Rio!"
Texto de GUSTAVO ROCHA-PEIXOTO, "NITERÓI PATRIMÔNIO"

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