Passo de Gigante

Faz de conta...









sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

A todos falta um adereço.



Diz-se que a Alegria, a Tristeza, a Tragédia e a Sacanagem se encontraram numa esquina certo dia e prometeram fazer de cinco dias o reino da verdade e da mentira!! Como todos ficariam com muitas dúvidas, resolveu-se que tudo acabaria numa quarta-feira, sem dó nem piedade! Para o bem ou para o mal!

No Carnaval, seja na rua ou na Sapucaí, cada pessoa está fantasiada. Mesmo aquelas não fantasiadas se sentem e sabem que a roupa que estão vestindo não passa de uma fantasia de algumas disponíveis no armário.

Na Sapucaí, se você tiver algum problema com a sua fantasia ou dúvida sobre como desfilar haverá sempre a quem perguntar. Lá terá bem próximo um grupo da sua Escola de Samba com a camisa escrita: DIRETORIA. E se você perguntar onde deve arrumar os adereços que faltam, respondem: "Só falando com o presidente, tô aqui com ele”. Ou: “procura sua ala” – com um ar de superioridade que constrange uma segunda pergunta.

Todos mandam, todos sabem e ninguém responde. De repente surgem alguns Mestres da bateria bebendo cerveja, andando rápido, falando e gargalhando. Não, esses não devem saber onde ficam os adereços.

Nesse momento, cruza a rua uma mulher que não pode ser só uma mulher, era uma Rainha! Seios pintados, corpo escultural, mas séria!  O tamanho do biquini era tão pequeno que ela mesma anda segurando um chapéu para proteger a bunda dos olhares, inclusive do meu. Essa não saberia onde ficam os meus adereços, se nem os dela ela trouxe!

Quanto mais próximo o momento do desfile mais aumenta o número de Diretores da Escola, ninguém sabe informar e todos sabem de tudo.  De repente surge um Diretor dizendo que viu algumas pessoas com minha fantasia aglomeradas próximas de uma rua antes da Sapucaí. Quando chego lá percebo que era um grupo de mineiros, que mal sabiam vestir as próprias fantasias - esses deveriam ser os palhaços.

Aparece uma Tia, simples e sorridente, essa sabia de tudo! Até para um cientista social que pela primeira vez desfila. Cheio das teorias, cheio da ciência que sabe que ali não existem Mestres, Diretores e só sonhadores como ele próprio nesse dia.

Quando a aflição do “pelo amor de Deus”, vira “pelo deus do Amor”: aparecem os fogos. A avenida bate palma, a bateria começa a explodir, o calor aumenta, o sorriso aparece, a calma chega, a cerveja já está gelada! Nessa hora, amigo Jatobá, eu também sou um Rei! Para alguns é uma tragédia, para outros uma comédia, mas todos a comentar-te, a falarão como arte! A arte de comprimentar sem títulos, hierarquias, dúvidas ou preconceitos nossos palhaços, reis, diretores, colombinas e rainhas! A Alegria, a Tristeza, a Tragédia e a Sacanagem inventaram a quarta-feira de cinzas, mas não disseram o que seria queimado, isso cada um escolhe: se queimamos nossas mentiras ou nossas verdades!

Rodolfo Lobato, carnaval de 2013.

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