Passo de Gigante

Faz de conta...









terça-feira, 7 de maio de 2013

Anedotas e as Mudanças Climáticas



Duas anedotas contam histórias do mundo jurídico que podem ajudar a determinadas reflexões sobre os desafios ambientais que hoje são colocados; não pelo conteúdo em si das mesmas, mas, principalmente, pela forma caricatural como são retratados os personagens e a solução dos problemas impostos.

A primeira conta a história de um mesmo problema em que estavam envolvidas duas empresas, uma norte-americana e a outra inglesa. As duas empresas atuavam no mesmo ramo de negócios na Ásia, quando aparecem denúncias sobre problemas ambientais. A empresa inglesa, imediatamente, contrata 100 engenheiros para solucionar o problema. Diferentemente, a empresa norte-americana contratou 100 advogados.

Ao visitar o lixão da cidade de Açailândia (MA) encontrei situações que, infelizmente, não são novas: trabalhadores sem nenhum tipo de proteção no trabalho de coleta, seja de equipamentos adequados ou proteção legal como registro e organização do trabalho (cooperativas etc.); ausência de separação do lixo orgânico dos demais; contato direto do lixo acumulado com a vegetação (amazônica) do entorno. Ao mesmo tempo, identificamos que grande parte da produção de resíduos na cidade não é fruto, apenas, do consumo dos cidadãos, mas das atividades industriais e agropecuárias presentes, principalmente da siderurgia. Seja através de resíduos lançados ao ar, fumaça e poeira que, segundo os moradores da cidade, causam uma série de problemas de saúde (que inclui problemas respiratórios e de visão); ou dos resíduos produzidos pela Vale S.A. que, ao limpar os trilhos da Estrada de Ferro Carajás, lança produtos químicos nos rios da região sem qualquer tratamento (denunciam os moradores da cidade).

Em reunião na Secretaria de Educação de Açailândia, ouvimos que diversos problemas enfrentados pela administração da cidade tinham uma origem comum:  comportamentos herdados de povos tradicionais (indígenas p.ex.) - que não sabiam se relacionar com as exigências modernas de cuidado com o meio ambiente. Ou seja, a população precisaria ser educada. Em sequência ouvimos e participamos de oficinas que mostravam o quanto a Vale S.A. e as siderúrgicas da cidade realizavam o completo aproveitamento dos resíduos produzidos e, além, transformando-os ainda em mercadorias (como as diferentes formas de fertilizantes produzidos que, na realidade, são resíduos da produção do ferro gusa).

A segunda anedota conta a história de dois advogados conhecidos que encontraram-se, por acaso, no hall de entrada de um motel. O problema é que os advogados estavam com as esposas trocadas, um casal saía do motel no momento em que o outro casal chegava. O advogado que estava saindo do motel logo inicia o diálogo: “Estamos numa situação bem delicada! O bom e justo seria que destrocássemos os casais para tudo terminar bem”. O outro replica: “Bom seria, mas justo não! Você está saindo... eu estou entrando”.

Para um morador da região Sudeste do Brasil (meu caso) é simples falar em limitar determinadas atividades econômicas no Norte quando as minhas necessidades de energia, transporte, acesso a água já estão, desigualmente, satisfeitas. O problema surge quando, com o aprendizado de nosso próprio passado, nos encontramos com situações de desigualdade tais que nos obrigam e relativizar a noção de “custo/benefício do desenvolvimento” e encontramos limitações de acesso a luz, transporte, educação e saúde.

Há um ponto de equilíbrio entre a possibilidade e a permissividade em degradar, poluir versus as regras de mercado de desenvolver, crescer e lucrar? Até que ponto podemos suportar a situação que nos encontramos de desenvolvimento ad infinito de formas de produzir e auferir renda? Seria anacrônico falar em planejamento econômico? Por que é fácil falar que precisamos impor limites para comportamentos individuais e, em sentido contrário, não é nada fácil colocar limites para empresas, corporações e Estados na busca do desenvolvimento? Por que é mais fácil culpar um agricultor pelo uso de um determinado fertilizando ou agrotóxico e não a empresa que os produziu a partir da noção de política reversa?

Nenhum comentário:

Postar um comentário